Um dos efeitos pouco divulgados pela elevação da temperatura na superfície terrestre é a possível redução de água nos mananciais do planeta. A afirmação foi feita pela mexicana Blanca Jiménez Cisneros, diretora da Divisão de Ciência da Água da Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas (Unesco) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
Blanca afirma que os relatórios do IPCC demonstram que a cada 1oC de aumento da temperatura mundial pode haver uma queda de 20% no suprimento de água potável para 7% da população mundial, cerca de 490 milhões de pessoas. .
Em regiões áridas e semiáridas tropicais – em áreas do México, África e nordeste brasileiro – esta porcentagem de habitantes sem água poderia subir para alarmantes 90%.
Além do aquecimento global, a mexicana ressaltou que o descaso das grandes cidades com a qualidade da água de seus rios também é responsável pela sua falta em muitos lugares. Um dos exemplos citados foi o da capital paulista.
A poluição das bacias hídricas é outro fator que agrava a escassez de água disponível nas cidades. A explicação é que, como a contaminação fica mais concentrada nos rios, a sujeira é arrastada para fontes potáveis quando ocorrem chuvas intensas.
Uma das recomendações feitas pela cientista do IPCC é substituir o uso de reservatórios para o abastecimento pela construção de aquíferos. Estudos apontam que, com temperaturas mais quentes, as perdas com evaporação em reservatórios podem chegar a índices de 30% a 40%.
Outro ponto destacado na entrevista ao jornal é a necessidade de reflexão sobre o uso racional da água pela sociedade. Blanca Cisneros ressalta que este recurso precisa ser melhor valorizado. Ela cita, por exemplo, medidas que devem ser implementadas como o reúso e a reciclagem da água.